O AMOR NÃO PRECISA DE EXPLICAÇÃO
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“Amar também é bom, porque o amor é difícil. O amor de duas criaturas humanas talvez seja a tarefa mais difícil que nos foi imposta, a maior e última prova, a obra para a qual todas as outras são apenas uma preparação.”
(Rainer Maria Rilke)
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De vez em quando, eu concordo com Rilke. Quando ele nos diz que o amor é difícil, acredito que todos nós entendemos sobre o que ele está falando. Abrir-se a um relacionamento, começar um relacionamento, levá-lo adiante e, por vezes, terminá-lo são experiências que exigem de nós habilidades de cuja existência nem suspeitamos. Mas, ainda assim, nós amamos! Escolhemos, dia após dia, amar. Mesmo sabendo que pode ser difícil, que pode dar errado, que podemos nos perder no desconhecido.
Como se não bastassem as vicissitudes do coração humano, que fazem do amor uma aventura um tanto quanto embaraçada, alguns têm de enfrentar ainda outros desafios. Refiro-me aos milhares de homossexuais (e toda a comunidade LGBT) espalhados pelo planeta. Embora estejamos no século XXI, em todo mundo – dos países mais liberais aos mais conservadores – gays, lésbicas, bissexuais e transexuais têm, diante de si, essa dupla missão: viverem seus amores e, ao mesmo tempo, resistirem ao ódio alheio.
Hoje, dia 17 de maio, é o Dia Internacional de Combate à Homofobia. Isso significa que, em diversos pontos do globo, estão acontecendo marchas, protestos e “beijaços”. Todas essas ações têm um objetivo muito claro: interceder por milhares de homossexuais que são vítimas de violência todos os dias. Do bullying nas escolas até torturas e homicídios, a homofobia tem muitas caras. Pode ser impetrada por estranhos, por colegas de trabalho, por instituições, e até mesmo pela lei (lembremo-nos, inclusive, que há países onde a homossexualidade é passível de pena de morte). E, pasmem, nosso título de campeão mundial já está garantido: o Brasil é líder disparado quando se fala em assassinatos de homossexuais.
Por isso, hoje, coloco a pergunta a você, meu leitor: amar já não dá trabalho suficiente? Você também não acha que é uma baita de uma sacanagem ficar perseguindo homossexuais, enquanto eles estão lá – como todos os seres humanos – se desdobrando para amar um outro alguém?
Imagine você se, a cada vez que você se apaixonasse, ou decidisse viver uma aventura amorosa, ou quisesse beijar alguém na balada, ou, ainda, que você decidisse se casar… imagine se, em todos esses momentos, um monte de gente viesse lhe cobrar uma explicação, ou, pior, apontassem-lhe o dedo e começassem a dissertar sobre “a homossexualidade”. Chato, né?
No entanto, ainda hoje, homens e mulheres (e crianças) muitas vezes têm de abdicar de seus sonhos, de suas vozes e de seus amores por viverem em ambientes hostis à homossexualidade. Mas, hoje, meu leitor, eu vou lhe fazer uma proposta: que tal se não tratássemos a homossexualidade como uma questão, como algo a ser entendido? E se, em vez de pensarmos que este é mais um dos “assuntos da pauta contemporânea”, assumíssemos o óbvio: que, quando estamos falando de sexualidade, estamos falando de amor – do bom, velho e incompreendido amor?
E se, nesse Dia Internacional de Combate à Homofobia, todos nós decidíssemos que a melhor maneira de aplacar a violência é abraçando o amor?
E se, apenas por um instante, deixássemos que nossa própria experiência nos soprasse aos ouvidos: “para amar, ninguém precisa – nem consegue – se explicar.”
p.s.: hoje, na minha cidade, o céu está tão azul que dá gosto de ver! Moro em Juiz de Fora, MG (a primeira cidade do Brasil a ter uma lei para proteger os homossexuais, a conhecida “Lei Rosa”). O dia lindo, a temperatura amena e o sol suave me dizem que hoje não é dia de entender. Que hoje nem mesmo é dia de apenas “aceitar”. Talvez hoje – hoje, amanhã e depois – seja dia de amar.
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Este texto foi publicado nas redes sociais da Chico Rei, no dia 17 de maio de 2014, em uma campanha no Dia Internacional de combate à LGBTQIA+fobia.