HISTÓRIA DE AMOR UMA OVA

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A premêra veiz que eu vi Ritinha com esses óio que a terra há de cumê, foi um deleite. Ô mulé bunita: umas maçã do rosto bem corada, umas batata da perna forte, uns busto mais firme que melão. Fiquei ali, devoranu aquele pitel com os óio, lambenu os beiço. Mas num falei nada com ela, com medo dela me mandar às fava, com essa minha cara de tomate. Mas como quem num arrisca, num petisca, invéis de ficá com água na boca, fui tentá ganhá aquela belezura no papo. Falei um monte de abobrinha, mas para minha surpresa, aquele mulherão dicidiu comê corda. Falô que tava muito solitária, muito triste nesse mundo amargo. Chorô as pitanga, coitada. Vi logo que ela me deu abertura e, pra impressioná, falei que eu era home pra descascá qualquer abacaxi. E ela ficô caidinha por mim na mesma hora e me beijô com aqueles lábios de mel. Nunca foi tão fáci consquistá uma donzela: foi canja, café pequeno.

Foi aí que a Ritinha me perguntô se eu queria ficá rico. Uai, quem num qué? Então ela falô que eu tinha que botá a mão na massa. Como num fujo do trabaio, entrei no negócio com meu amor. Raspei meu porquinho com as economia duma vida e dei pra Ritinha. Ela me falou que ia comprá umas mercadoria à preço de banana, pra depois revendê por preço de caviá. Eu até achei essa proposta meio arriscada, mas como num se faz omelete sem quebrá uns ovos, resorvi concordá, afinal era um dinheiro mais fácil que sopa no mel. É… se ocê num desconfiô ainda o que é que aconteceu, é com tristeza que eu te conto agora.

Descobri do pió jeito que beleza num põe mesa. No dia marcado de acertá as conta com a danada da Ritinha, ela me deu um chá de cadeira. Comecei a achar que aquela história era marmelada e que ela tinha usado os atributo de beleza pra me seduzi. E era isso mermo: eu comi gato por lebre, porque a disgramada me deu foi uma banana e fugiu com a minha bufunfa. Agora, tô pobre de marré, cheio de dívida, cumenu o pão que o diabo amassô, choranu iguá um manteiga dirritida. Como eu resorvo esse pepino, me fala? Se bem que agora num tem jeito, porque num adianta chorá sobre o leite derramado.. Bobo fui eu, que num ouvi meu véi, que dizia que quem anda com os porcos acaba comenu farelo. Cê tá rinu de mim, é? Sei bem. Pimenta, nos ói dos outro, é refresco.


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Texto especialmente escrito para a apresentação “Quem temperô?”, dos Contadores de Histórias do Granbery, em 2017.

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