HÁ UMA PEDRA NO FIM DO MUNDO

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Alguns se perguntam quando é o fim do mundo, acreditando que o fim do mundo fica no tempo. Outros se perguntam onde é o fim do mundo, acreditando que o fim do mundo fica no espaço. Se fica no tempo no espaço, ninguém sabe ao certo. O que eu sei é que no fim do mundo há uma pedra e, por detrás dessa pedra, há uma mulher que chora. Não dá para saber se são lágrimas de tristeza ou de alegria, se são lágrimas de saudades ou de madrugadas.  Até mesmo porque o fim do mundo é tão longe que quase ninguém vai até lá. Quase.

Pois dizem que um dia um viajante se aproximou do fim do mundo, talvez por desejo, talvez por descuido. E começou a ouvir gritos. Gritos de mulher. “Mas de onde vêm esses gritos?”, ele se perguntou. Então ele viu uma pedra e soube que os gritos vinham de trás da pedra. O viajante contornou a pedra e lá havia uma jovem muito branca, com cabelos ruivos apertados numa trança. E essa mulher gritava, gritava, gritava. O viajante perguntou a ela “por que você grita?”, mas ela não respondia. Apenas gritava e gritava. Ele perguntou “o que eu posso fazer para ajudá-la?”. Mas a jovem, com as mãos nos ouvidos, continuava gritando.

O viajante foi-se embora e, depois de muito caminhar, passou por uma taberna. Ele contou aos outros homens que lá bebiam que ele havia ido até o fim do mundo. Ninguém acreditou nele. Um dos homens o desafiou: “se você foi até o fim do mundo, o que é que há por lá?”. E o viajante respondeu: “no fim do mundo, encontra-se o desespero.”

Dizem também que, outra vez, uma menina que brincava de esconde-esconde se aproximou do fim do mundo, talvez se escondendo, talvez procurando. E começou ouvir risadas. Ou melhor, gargalhadas. “Mas de onde vêm essas gargalhadas?”, ela se perguntou. Então ela viu uma pedra e soube que as gargalhadas vinham de trás da pedra. A menina contornou a pedra e lá havia uma velha muito preta, com cabelos brancos muito desgrenhados. E essa velha ria, ria, gargalhava. A menina perguntou a ela: “do que você está rindo?”, mas a velha não respondia. Apenas gargalhava. A menina pediu: “eu quero rir junto com você!”. Mas a velha não conseguia parar de gargalhar. Então a menina riu um pouco com ela,  porque é o que a gente faz quando alguém está rindo muito perto da gente.

Depois, foi-se embora e, quando encontrou as amigas com quem brincava, contou a elas que tinha ido até o fim do mundo. Mas ninguém acreditou. Uma das amigas a questionou: “se você foi até o fim do mundo, o que é que há por lá?”. E a menina respondeu: “no fim do mundo,  encontra-se a alegria.”

Mas uma outra vez, uma mulher caminhava bem próxima do fim do mundo. Ela começou a ouvir um canto, um canto que a seduziu. “Mas de onde vem esse canto?”, ela se perguntou. Então ela viu uma pedra e soube que o canto vinha de trás da pedra. A mulher contornou a pedra e lá havia um pássaro. E era o pássaro quem cantava. A mulher se sentou ao lado do pássaro e ficou ali, ouvindo-o cantar, sabe-se lá até quando, até onde.

O pássaro foi-se embora. A mulher seguiu o seu caminho. Um dia, fazendo eu meu próprio caminho, esbarrei com ela, e ela me falou que tinha ido até o fim do mundo. E eu duvidei. “Se você foi mesmo até o fim do mundo, o que é que há por lá?”. E ela me respondeu: “No fim do mundo, há uma mulher que chora. Não sei se são lágrimas de tristeza ou de alegria, se são lágrimas de saudades ou de madrugadas.”

É por isso que eu sei que, no fim do mundo, há uma pedra e que, por detrás dela, há uma mulher, e que essa mulher, ela chora.

E você, se em mim não acreditar, pode ir com seus próprios pés até lá.

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