BAGUNCINHA BOA
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Ele não tinha um tipo preferido de homem. Dizia-se eclético. Sérios ou brincalhões? Pouco importava. Grandes e pequenos lhe caíam bem. Gostava de ouvir, então se divertia com qualquer interlocutor minimamente interessante. Era versátil na cama – e curioso – de modo que as transas poderiam ser adaptadas a diversas fantasias.
Mas, decerto, descobriu que havia uma restrição. Uma inegociável. Aquela que impede não apenas um relacionamento, mas até mesmo uma noite de sexo casual. Ele odiava, ou mais, repudiava os homens que não deixavam que ele lhes bagunçasse os cabelos.
Pode parecer coisa pouca, mas não era. A primeira vez que se irritou com isso foi com um boy da Augusta. Estiloso, fã de Lana, paleta de cores e de poses bem pensadas. Tudo bem arrumadinho, inclusive os cabelos: cachos finalizados com caros produtos. Olhando de cima, um convite. Contudo, mal enfiou o dedo pelos anéis, o rapaz segurou seu pulso, desviando-o. Ele tentou de novo, mas o rapaz interrompeu novamente o movimento.
Depois disso, foi inevitável perceber como aquele era um cuidado de vários homens: ficar, mesmo no sexo, com o cabelo intacto. “Seria culpa do Clark Kent?”, ele conjecturou. “Ou do James Bond?”.
Nas noites em que não queria se aborrecer, ele já flertava com homens de cabeças raspadas, ou que já parecessem meio desleixados como os cabelos. Mas dava errado também. Um colega de trabalho – com quem só se arriscou uma vez – lhe dissera que seu cabelo era metodicamente despenteado, e pediu-lhe que não pusesse a mão em sua cabeça. Um outro, com cabelo baixo de máquina dois, também o repeliu: “por favor, não coloque as mãos no meu cabelo suado”.
Agora, nas baladas ou nos bares, até mesmo aos pretendentes apresentados pelos amigos mais próximos, ele faz, antes de qualquer outra, a assertiva e decisiva pergunta:
– Quando estivermos transando, eu posso bagunçar seu cabelo?
Segundo ele, sua fama se espalhou. A boa e a ruim.
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