texto da orelha

por Isadora Monteiro

Entre restos e mais restos e mil e outros restos, Trilogia da Miséria é o que falta e o que conta. De forma simples, mas deliciosamente imprevisível, a história de Dulce e Draco se entremeia à de Aninha, Lourdes, Catherine, Thomas, Tyler, Justin, Kumar, Binda e muitos outros, para lembrar que o encontro com o outro e com o eu abre ferida, mas que existem muitas saídas entre a sangria e a misericórdia.

Da crueza do real aos tons vivos das terras inventadas, somos conduzidos por um narrador implacável, que desenha uma cartografia da miséria e dos transbordamentos, do desespero e das esperanças, do fim e dos recomeços. As páginas que o leitor tem em mãos prometem a náusea das metáforas certeiras e o alívio das pequenas redenções.

Trilogia da Miséria demonstra, de maneira atual e sensível, o que Alberto Manguel e Gianni Guadalupi pretendiam dizer quando escreveram que “a imaginação salva a realidade do reino inefável dos fantasmas”. Mais uma vez, a habilidade de Ulisses Belleigoli de construir personagens e tecer os delicados fios da trama nos surpreende, mantendo vivo o importante ofício do contador de histórias.