RESPEITO É BOM… E EU GOSTO!

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No Brasil, os homossexuais já podem se casar, as “paradas gays” fazem parte do calendário das grandes cidades do país, e o Nico e o Félix se beijaram na novela.

Olhando por esse ângulo, pode até parecer que há um progresso natural e inabalável na questão da diversidade sexual, mas todos sabemos que não é bem assim. O avanço da discussão dos direitos LGBT acendeu a fúria de conservadores, de religiosos e de covardes, envergonhando nossa nação, colocando o Brasil em um lugar desconfortável: somos o país que mais mata homossexuais no mundo. São mais de 300 mortes por ano, quase uma por dia.

O que fazer então para mudar esse cenário, para que nosso país respeite os homossexuais?

Acredito que, talvez, derrubar alguns mitos sobre a sexualidade seja de extrema importância. Sugiro começarmos por esses dois:

“Sou bem resolvido com a minha sexualidade!”

Mentira. É nada. Ninguém é. Não importam sua idade, sua orientação sexual, seu nível de escolaridade, suas crenças religiosas, nem mesmo seu discurso sobre sua própria sexualidade: você não é bem resolvido! Isso porque a sexualidade não é algo a ser resolvido. Não é equação, nem briga no pátio do colégio. A sexualidade é para ser vivida – experimentada – todos os dias. Favor não confundir “sexualidade” e “orientação sexual”. A sexualidade tem a ver com todos os nossos relacionamentos, tem a ver com quem somos. Por isso, um aviso: se você “resolveu” a sua sexualidade, pode fechar o caixão.

“Eu não tenho nada contra!”

Tem sim. Todos temos. Contra e a favor. A sexualidade do outro nos toca. A maneira como as pessoas ao nosso redor se relacionam tem o poder de nos inspirar e de nos indignar; podemos ser atraídos ou repelidos. Isso vale para todos os comportamentos, mas especialmente para o sexual. É a moça pudica que critica a “periguete”, é o rapaz “pegador” que debocha do namorado romântico. Muitas vezes, negar o outro é uma forma de nos afirmarmos, mas isso não é novidade para ninguém. Outro aviso (talvez uma dica): o que você sente em relação à sexualidade do outro diz mais sobre você do que sobre ele. Como cantou Fernando Pessoa: “o que vemos não é o que vemos, senão o que somos”.

E o que isso tem a ver com o respeito à comunidade LGBT?

Aí vai meu palpite, minha aposta: se pensarmos que a sexualidade dos outros (homossexuais ou não) sempre vai nos tocar, e se compreendermos que não precisamos resolver sexualidade nenhuma (nem a nossa, nem a de ninguém), teremos mais chances de um convívio harmônico.

Será mais fácil entender por que, às vezes, não gostamos ou aprovamos o comportamento sexual de alguém. Além disso, perceberemos que o nosso próprio comportamento (independente de qual seja ele) também tem efeito nos outros. E, mais importante, não seremos reféns de nossas impressões e preconceitos.

Desse modo, finalmente, poderemos ter a bela oportunidade de nos educarmos, guiados pelo conselho da nossa professora do maternal: “se quiser ser respeitado, respeite!”.

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Este texto foi publicado originalmente na Chicundum, a revista-pôster da Chico Rei, no segundo semestre de 2014.

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