“Ele” conta a história do amor entre o fotógrafo costa-riquenho Ángel Mora e o judoca alemão Ulrich Kuhn-Vogel. O livro é dividido em pequenos episódios, nos quais o narrador (Ángel) rememora, em fragmentos, sua relação de adoração e curiosidade com o famoso atleta olímpico.

TÍTULO: Ele
AUTOR: Ulisses Belleigoli
PÁGINAS: 176
TAMANHO: 14 x 21 cm
EDITORA: Varanda
ISBN: 978-65-982718-0-0




Texto da orelha do livro, escrito por Berttoni Licarião, professor e crítico literário.



Como se mapeia um amor feito de abismos? De Puerto Limón a Nagasaki, de Los Angeles a Cadaqués, de Perth a Luanda — passando por uma breve temporada no Brasil e encerrando-se nas montanhas do Nepal —, “Ele” responde a essa pergunta por meio da narrativa em retrospecto de Ángel Camilo Mora, fotógrafo costa-riquenho a caminho de se reencontrar com o grande amor de sua vida, o judoca olímpico Ulrich Kentaro Kuhn-Vogel. Uma viagem que entrelaça a elaboração mais profunda de si à construção aquebrantada do outro, cujos desdobramentos revelam traumas, espelhamentos, inseguranças e perguntas que atravessam décadas.

A cartografia proposta pela memória de Ángel confunde-se aqui com a obsessão da confraria dos Effrayés, fotógrafos esportivos entusiasmados pela captura de “abîmes” — fotografias que registram, durante a luta de judô, o momento em que apenas um pé conecta ao chão a confusão de corpos no ar. Essas imagens, fundamentais à movimentação do enredo, foram primorosamente transformadas pelo autor em modus operandi da narrativa, preparando passagens que acabam em suspensão ou cunhando pequenas frases que sustentam com inesperada leveza capítulos de revelações pungentes ou insuspeitada gravidade.

Ao aliar a paixão pelo judô — o “caminho suave” — à tradição latino-americana de histórias labirínticas bem urdidas, “Ele” oferece a leitoras e leitores um universo de personagens complexas e fugidias, elas mesmas comportando-se também como abismos — “um ponto e todo o desejo ao redor”. Foi o japonês Yukio Mishima quem certa vez escreveu que não há nada mais assombroso do que uma margem, seja ela do tempo ou do espaço. Belleigoli transformou essa dupla possibilidade de assombro em fascínio que nos interpela e move suas personagens. Entre margens e abismos, cidades cosmopolitas e refúgios idílicos, este é um relato sedutor no qual amadurecimento e obstinação são as principais coordenadas de um desfecho inevitável.